quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PELEJA VIRTUAL: EVALDO x JERSON

Trata-se de desafio virtual travado no início de 2009 entre este blogueiro, então iniciante na arte do cordel, e um colega de trabalho no TCU, o cordelista Evaldo José da Silva Araújo, um dos culpados pelo mergulho do aprendiz nesse gênero.
É tudo brincadeira. Só provocação, sem nenhuma conotação preconceituosa.
Espero que apreciem.

(Evaldo)

Esta casa centenária
Tá repleta de artista
Tem Rainério sanfoneiro
Tem Jerson que é repentista
Se a peleja der certo
É verso a perder de vista

(Jerson)

Sua ideia é exequível
Quiçá pinte um clima
Seria um fato incrível
Com patamar lá em cima
Versos de alto nível
Uma torrente de rima

(E)

Vou no bordão e na prima
Das cordas do violão
A peleja começou
E não vai parar mais não
Você defende o Norte
E eu defendo o Sertão

(J)

Não me faço de rogado
Dispenso até cerimônia
Porque fui desafiado
Trovo sem parcimônia
Do Norte o melhor estado
É chamado Rondônia

(E)

Respeito tua Amazônia
Mas prefiro meu Nordeste
Sertão e Zona da Mata
Litoral, Brejo e Agreste
Caatinga, Carriri,
Terra de cabra da peste

(J)

Cursos d'água exuberantes
Fauna que a todos fascina
A floresta, tapete verdejante
Com o céu azulado combina
Povo ordeiro, perseverante
Assim é nossa disciplina

(E)

O Atlântico d'azul extasiante
Emoldurando o nosso litoral
A alegria do nosso carnaval
Tem no frevo seu ritmo mais vibrante
Contagiando a todo visitante
O Nordeste é mesmo singular
Pernambuco, Paraííba, Ceará
Piauí mais Rio Grande do Norte
Sertanejo é sobretudo um forte
Nos dez de galope da beira do mar

(J)

De Rondônia ao Amapá
Do Acre ao Tocantins
De Roraima até o Pará
No Amazonas de Parintins
Melhor região não há
São lindos estes confins

Aqui eu tenho a castanha
Tucumã, pupunha e açaí
Da jiboia eu tiro a banha
O assado é de tambaqui
O tacacá eu tomo na manha
Como é bom nosso tucupi

(E)

Completando nossa linda região
Tem Sergipe, Alagoas e Bahia,
Filho de Gandhi a todos contagia
Junto ao Boi que vem lá do Maranhão
A caatinga que enfeita o sertão
Tem facheiro, xique-xique e quipá
E a mata nos dá suco de cajá
De mangaba, graviola e caju
Tem agulha, marisco e sururu
Nos dez de galope na beira do mar

(J)

Fazendo no Norte uma andança
Verá o que de bom aqui tem
Ciranda uma graça de dança
E mais o carimbó de Belém
Ao som de toadas balança
O boi que nós temos também

(E)

Além da ciranda, nós temos forró
Coco, baião, umbigada, xaxado
Xote, maracatu de baque virado
Nosso povo dança e levanta o pó
Se dança agarrado, ninguém fica só
No passo do frevo ninguém quer parar
A sanfona do Rei vai nos inspirar
Nosso Rei Gonzaga, maior brasileiro
O ritmo de Jackson do Pandeiro
Nos dez de galope na beira do mar

(J)

Da semente do urucu
Vem tintura e colorau
E o creme de cupuaçu
Uma delícia, nada mau
Nosso peixe pirarucu
Não perde pro bacalhau

E eu nem falei do brega
Outra marca registrada
Ritmo quente que pega
Não deixa a galera parada
É tanto esfrega-esfrega
Azaração, gente suada

Não é Caruaru ou Campina
O São João de arrepiar
O forró também predomina
Em Porto Velho, bom lugar
E a melhor festa junina
Daqui é o Flor do Maracujá

Da semente do urucu
Vem tintura e colorau
E o creme de cupuaçu
Uma delícia, nada mau
Nosso peixe pirarucu
Não perde pro bacalhau

(E)

São João de verdade só aqui
Caruaru, capital do forró
O casal junta o corpo, dá o nó
No agreste, sertão e cariri
Coisa igual a esta nunca vi
As fogueiras enfeitam a cidade
Nosso povo é só felicidade
Alegria acende o coração
Embalados ao som do Gonzagão
Dança gente de qualquer idade

Mas no brega também temos o Rei,
Reginaldo Rossi, inigualável,
Tem Falcão com seu jeito formidável
E outros tantos que apresentarei
Frank Aguiar ainda citarei
Apesar de gostar do pé-de-serra
Lista grande que aqui não se encerra
Se completa com grandes humoristas
Chico Anísio, talentoso artista,
Pra divertir o povo dessa terra

Na tinta nós temos o pau-brasil
Que deu o nome ao nosso país
A culinária te fará feliz
Com delícias que você nunca viu
Peixe de mar, também peixe de rio
Surubim, traíra, atum, cação,
Lagosta, marisco e camarão
Caranguejo, siri e aratu
Lamba o beiço ao comer pitu
Que existe na nossa região

(J)

Só fala isso por desconhecer
A disputa de dois bois-bumbás
Que faz Guajará-Mirim tremer
Deixa outras festas pra trás
Flor do Campo entra pra valer
E Malhadinho com gosto de gás

Fora isso em nossa Capital
A briga também é um estouro
Corre Campo do Bairro Areal
A Zona Sul com o Ás de Ouro
E Diamante Negro fenomenal
Na cultura são nosso tesouro

Este amigo assevera e diz
No Amazonas, embate parelho
Que de nosso boi é a raiz
Veja um dia, siga o conselho
Pode ser dum ou doutro matiz
Um é azul e o outro vermelho

(E)

Nunca viste uma disputa de verdade
De Repentistas com suas violas
Sem precisar de livros e escolas
Descrevendo toda humanidade
Foi Cancão, na maior simplicidade,
Cantador que só tinha beleza
E Pinto do Monteiro, na esperteza,
Se unia a Louro da Pajeú
Demonstrando junto com Xudu
"Como é grande e bonita a natureza"

(J)

Pinduca, baluarte cultural
Fafá de Belém talentosa
Compõem nossa raiz musical
Cantam em verso e prosa
E David Assayag é o tal
Com sua voz maravilhosa

Expoentes em esfera diversa
Igualmente merecem citação
Preste atenção na conversa
Marina defende a preservação
Chico Mendes, sina perversa
Não abandonou sua convicção

(E)

Sou Nordeste, fiz o tropicalismo
Com Caetano, Betânia, Gil e Gal
E na literatura nacional
Tenho brilho no regionalismo
Foi Chatô que fez nosso jornalismo
Nosso povo fez o Brasil crescer
Paulo Freire quem ensinou a ler
E Manoel, o poeta, que Bandeira
Defendendo a cultura brasileira
Eu sou muito melhor do que você

Sou Nordeste das lutas libertárias
Frei Caneca, Zumbi e Conselheiro
Nosso povo sempre foi guerreiro
Enfrentando as forças arbitrárias
Sem temer as posições contrárias
Vai em frente e só pára se vencer
A República aqui pôde crescer
Aumentando a nossa consciência
E na luta por nossa independência
Eu fui muito melhor do que você

Sou Nordeste de Glauber no cinema
João Cabral ensinando poesia
Tem Caymmi cantando a Bahia
Castro Alves fazendo um poema
Alencar e os cabelos de Iracema
Elba Ramalho canta o Balancê
Jorge Amado da gosto de se ler
Tem João Grilo e Pedro Malazarte
Espalhando cultura em toda parte
Eu sou muito melhor do que você

(J)

A Independência como ideal
Nasceu com o Alferes Joaquim
Muito explorados por Portugal
Pro Brasil aquilo era ruim
Inaugurando a Corte Imperial
Pedro peitou sua família, sim

Depois daquele grito famoso
Às margens de certo riacho
O povo estava já desgostoso
Na Amazônia, terra de macho
Na Cabanagem ficou revoltoso
Do Império não era capacho

Cabe registro aqui, ademais
Que o Brasil ser menor podia
Uma área de belos seringais
Até então não nos pertencia
Eis que surge ninguém mais
Que um gaúcho de valentia

Plácido de Castro liderou
Domando a sanha boliviana
Combateu, impôs-se, lutou
E o Brasil pagou uma grana
Fez um tratado e anexou
Finalmente a terra acreana

(E)

Muito antes expulsamos holandeses
Juntos índios, negros, portugueses
O Maranhão pôs pra fora os franceses
Acabando de vez com a invasão
Não deixando que houvesse divisão
Em Tabocas e Casa Forte resistimos
Com a luta, o país construímos
Fomos nós que fizemos essa nação

No Quilombo de Palmares já se vê
Povo negro lutando para ter
Liberdade, respeito e poder
Acabando co'a discriminação
Dando basta à cruel escravidão
Ceará é o primeiro a abolir
Demonstrando outra vez que aqui
É o começo da nossa nação

Em mil, oitocentos e dezessete
Pernambuco outra vez se subverte
Enfrentando governo tête-à-tête
Indo em frente co’a conspiração
Instalando em nossa região
República, governo provisório
É o exemplo mais claro e notório
Que aqui começou nossa nação

(J)

E ainda nem comentei nada
Sobre o ouro desta Região
Não foi só em Serra Pelada
Que acharam o metal, não
A riqueza estava espalhada
Por tudo que é rincão

Encontraram foi de montão
No leito do Rio Madeira
Da Bahia ao Maranhão
Daí vieram fazer a feira
Cadê a esperada gratidão
Dessa gente garimpeira?

Se eu citar outros minerais
Vai parecer que sou pedante
Nosso subsolo é rico demais
Este escriba é quem garante
Temos diversos mananciais
Do tão cobiçado diamante

No Pará, ferro e bauxita
No Amapá brota o manganês
Em Rondônia a cassiterita
E ainda digo a todos vocês
O Amazonas tem a hematita
Minério a gosto do freguês

(E)

O petróleo só é nosso
Graças ao grande Lobato
E, não querendo ser chato,
Não existe em solo vosso
Já aqui, amigo, eu posso
Achar na terra e no mar
Na Bahia, ao perfurar
Em Sergipe e Alagoas,
Mossoró tem terras boas,
Basta o solo furar

Somos nós que trabalhamos
Para o país prosperar
São Paulo não vai parar
Por isso que emigramos
Pra Brasília viajamos
No tempo de Juscelino
Homem, mulher e menino
Construindo a capital
Para nós é natural
É esse nosso destino

Também fizemos o norte
Viajando nos gaiolas
Só não queremos esmolas
Pois nosso povo tem porte
Desenhamos nosso sorte
Penetrando em seringal
Garimpando mineral
E construindo cidades
Tecendo felicidades
No Teatro de Manaus

Agradeçam para nós
Tudo que aí deixamos
Pois apenas trabalhamos
Ajudando todos vós
Como os vossos avós,
Da nossa gente mais pura,
Que lhe encheram de candura
E lhe deram de presente
O dom de fazer repente
Marca da nossa cultura

(J)

Não perco nem um segundo
Respondo a Vossa Senhoria
Eu não sou muito facundo
Porém a caneta me guia
Estou no pulmão do mundo
Exalto o Norte noite e dia

Na farmácia da natureza
Oferecemos o jatobá
Combatendo toda fraqueza
A catuaba e o guaraná
Cura a malária com certeza
A quina-quina que aqui há

Essa lista é bem extensa
Inclusive pra menopausa
É erva que nem se pensa
Tem remédio pra toda causa
Pra que não pareça ofensa
Agora vou dar uma pausa

Em matéria de combustível
Nós não estamos atrás
Sua opinião é risível
Só você mesmo desfaz
Parece até impossível
Mas como Urucum tem gás!!!

(E)

Biocombustível não nos falta
Com a soja plantada na Bahia
Maranhão também nos põe em alta
Babaçu nos dando todo dia
Carnaubeira põe cera em nossa pauta
Minha terra só me dá alegria

Na farmácia de doutor raiz
Com mastruz se cura resfriado
Aliviando a coriza de quem diz
Que o peito está muito apertado
Retirando o catarro do nariz
E deixando o caboclo aliviado

Tem também a folha da hortelã
Chá de boldo e erva cidreira
As mulheres parem de manhã
Apenas com ajuda da parteira
E se algo acontece a minha irmã
Quem a cura é uma boa rezadeira

O aveloz você não acredita
É pra asma remédio aprovado
E outra coisa já pode ser dita
Bactéria ele joga para o lado
E o câncer, doença maldita,
Aos poucos vai sendo controlado

(J)

Se a riqueza vegetal
É alvo do debate agora
O patrimônio florestal
Eu decanto sem demora
Pois pra mim é natural
Explicar para os de fora

A majestosa seringueira
Dá a borracha do calçado
E da gigante castanheira
Vem alimento apreciado
Tem resistente madeira
A faveira-ferro, prezado

Tem também espécie nobre
Tanto quanto tem rara
Esta mata não é pobre
Tem muita madeira cara
Mogno quase cor de cobre
Angelim e maracatiara

Se vocês tem carnaúba
Famosa árvore da vida
Vou render à paxiúba
Uma homenagem merecida
Que do chão à cobertura
No lar do caboclo figura
Por isso é tão querida

(E)

Além de termos floresta
Temos mangue e restinga
De sobra ainda nos resta
Nossa bela caatinga
Que digo nesse poema
Pra você que não ouviu
Que esse ecossistema
Só existe no Brasil

Você não sabe o que é
A sombra do juazeiro
Nem nunca bebeu a água
Da raiz do umbuzeiro
Mata a sede do vaqueiro
Fecha a chaga maldita
De todo nosso terreiro
É a árvore mais bendita

Tem suco de manga rosa
De mangaba, de umbu
Eita coisa saborosa
É o suco de caju
Dele tudo se aproveita
Quando no pé se apanha
Pois terminada a colheita
Ainda resta a castanha

A umburana sagrada
Serve pro artesanato
A madeira é talhada
Pelo santeiro, tom nato,
Que talha Nossa Senhora
São José e São João
E faz sem muita demora
Viver São Sebastião

Ademir foi o craque de cinquenta
E Vavá ganhou dois campeonatos
Bebeto no tetra fez vôos altos
E Rivaldo foi o melhor do penta
Clodoaldo o volante de setenta
Tinha bola que dava gosto ver
E Zagalo, preciso lhe dizer,
É o único tetracampeão
Escalando a nossa seleção
Eu sou muito melhor do que você

O violão de João Pernambucano
Dominguinhos no acordeom
Sivuca inventando um novo tom
Pro poeta João Paraibano
Uma aula do grande Ariano
E Samico no seu ateliê
As rendeiras com bilros a tecer
E Hermeto tocando na chaleira
Em todo ramo d'arte brasileira
Eu sou muito melhor do que você

(J)

Retruco sem dar vacilo
Porque sou bom defensor
Você falou disso e daquilo
Mas também cito jogador
Repondo-lhe com estilo
É Amazônida certo Doutor

Refiro-me a um magrelo
Habilidoso e bom boleiro
Tinha um futebol belo
Refinado, muito arteiro
Daqueles que a bola come
É patriota até no nome
O tal Sócrates Brasileiro

Quando mostrava seu jogo
Outro que técnica tinha
Foi brilhar no Botafogo
Não jogava uma bolinha
Era mesmo um goleador
Um verdadeiro matador
O iluminado Quarentinha

O primeiro metal dourado
De nossa olímpica história
Por nortista foi conquistado
Cobrindo a Nação de glória
Guilherme era bom de mira
Com sua pistola como atira
Que brilhante trajetória

Ainda na seara esportiva
No desporto motorizado
Com sua raça ele cativa
Pois é piloto arrojado
O "Jungle Boy" Pizzonia
Orgulho da nossa Amazônia
Digno de ser festejado


(E)

Você procurou no ataque
Indo a linha de fundo
Não encontrou nenhum craque
Vencendo a Copa do Mundo
Nem ao menos em segundo
Você consegui achar
Isso para comprovar
Que te falta jogador
Restando apenas o Doutor
Para exemplificar

Se queres time inteiro
Põe Júnior na Lateral
Marinho, outro genial,
Luiz Pereira, o zagueiro,
Manga vai ser o goleiro
Dida fica esperando
Mário Sérgio vai lançando
Pra Juninho do Lion
Eita que time tão bom!
Esse que eu tô montando

Se é medalha de ouro
No vôlei temos Ricardo
Na praia sempre aplicado
Guerreiro feito um touro
Temos em nosso tesouro
Do vôlei outra conquista
D'outro grande desportista
Pampa, lá em Barcelona,
Deixando o resto na lona
Sem nos alcançar na pista

No Basquete da terrinha,
Simplesmente, tem Oscar
Esse grande potiguar
Do mundo o maior cestinha
Na areia, a rainha
Foi Shelda, que tanto vias,
Colocando mais magias
Vamos para o Futsal
Onde o mais genial
Sempre foi Manoel Tobias

(J)

No esporte eu fico quieto
Nessa aí você venceu
Montou um time completo
O argumento convenceu
Mas imponência de verdade
Desculpe minha maldade
Você ainda não conheceu

Os visuais daqui são ricos
O visitante deixam feliz
Temos os dois maiores picos
Existentes em nosso país
31 de Março e Neblina
Montanhas de ponta fina
Foi Deus que assim quis

Não é somente o relevo
Que merece comentário
Por oportuno eu devo
Falar de outro cenário
Amazonas é caudaloso
Êta riozão monstruoso
Pense num imenso aquário

Não vá rubescer o rosto
Pois não vai achar igual
Espécie pra todo gosto
A nossa fauna fluvial
Jatuarana, bote fé
Jaraqui e tucunaré
E até peixe ornamental

(E)

Já que não tens atleta
Não toco mais na matéria
Vamos mudar de assunto
Que peleja é coisa séria
Falando da natureza
Sem brincadeira ou pilhéria

O Amazonas é gigante
Isso eu não vou negar
Mas, sou mais o Velho Chico
Da Canastra até o mar
Rio da Integração
Unindo nossa nação
Que coisa espetacular

Um delta em mar aberto
Só existe por aqui
O Delta do Parnaíba
Litoral do Piauí
E os Lençóis, no Maranhão
Animam nossa visão
Você não vai resistir

Da beleza que há aqui
Eu não posso ter vergonha
A água azul-transparente
De Fernando de Noronha
Pro mergulho te convida
Coisa mais bela da vida
Mesmo acordado se sonha

Nós temos Jericoacoara
Temos Porto de Galinhas,
A Ilha de Itaparica,
Pajuçara e Redinha
Abrolhos que não tem par
Nem precisa mergulhar
Pra ver a fauna marinha

Essa fauna é mais diversa
Com a baleia Jubarte
Golfinhos se exibindo
Pulando por toda parte
E os peixes de aquário
Aqui também temos vários
Que são uma obra d’arte

Pro pescado tem Cavala
Tem Corvina, Agulhão
Dourado, Bijupirá,
Olho-de-boi, Budião
Vermelho e Guarajuba
Se quiser pegue Manjuba
Pegue Soldado e Dentão

(J)

Faça uma urgente visita
Para ver peixe colorido
Na Barcelos tão bonita
E fique de queixo caído
Maravilhado pelo prazer
Que decerto irá fazer
Seu cotovelo dolorido

Como a hileia é prolífica
Em surpresas e emoções
Contemple vista magnífica
Tenha muitas palpitações
Creia, barrento e escuro
Não se misturam, asseguro
Os Rios Negro e Solimões

Outro choque causa arrepio
Testemunhado por mata e céu
É a colisão entre mar e rio
A pororoca, enorme macaréu
Pra isso não vai ter jeito
Assistindo fica satisfeito
E certamente tira o chapéu

Não será por falta de praia
Que vou perder a contenda
Antes que a memória me traia
E para evitar reprimenda
Ressalto, não tem só barranca
Há balneários de areia branca
Nestas bandas, você entenda

E ainda conto vantagens
Além de demais agradáveis
Digo que nestas margens
Também se fazem notáveis
Por serem elas banhadas
Não por águas salgadas
E sim por águas potáveis

Se aí tem golfinho, baleia
Eu mostro o que tem por aqui
Evaldo, essa briga é feia
Peixe-boi e boto tucuxi
Basta querer que encontra
Ariranha, parente da lontra
É bicho que não tá no gibi

(E)

Em nosso aquário marinho
Você encontra Donzela
Quem sabe você não gosta
É uma espécie bela
Tem Palhaço e tem Anjo
Com todas cores da tela

Encontro de rios não falta
Visite o Piauí
O Parnaíba, gigante,
Encontrando o Rio Poti
Se prepare meu amigo
Você não vai resistir

Um segredo eu lhe conto
Tu não vais acreditar
O Capibaribe encontra
O Beberibe, por cá,
E vão, que alumbramento,
Nesse exato momento,
O Atlântico formar

Praias de rio não faltam
Em tudo que é lugar
Na beira do São Francisco
Petrolina, Propriá
É cada ilha tão linda
Que farão você babar

Tenha calma camarada
Não venha ser topetudo
Qualquer coisa que citares
Eu respondo sem estudo
Só porque meu caro amigo,
Não fique brabo comigo,
O Nordeste tem de tudo

(J)

Encontre de tudo um pouco
Ao passar pelo beiradão
Vindo aqui, fique louco
Pois tem bastante atração
Tem a Festa da Melancia
Que em Manicoré contagia
E não é da funkeira não

Lábrea fica no Amazonas
Às margens do Rio Purus
Ali mulheres bonitonas
Morenas, corpos seminus
A Festa do Sol é sucesso
Garanto: vale o ingresso
Evento da fama faz jus

Conheça também essa joia
Chamada Parque Jalapão
No Fervedouro você boia
Seja em qualquer estação
É bem pertinho de Palmas
Lá renovamos as almas
Acredite em mim, irmão

(E)

Você volta para festas
Mas, é pura teimosia
Você sabe: O Nordeste
É o reino da alegria
E tem festa o ano inteiro
Se você for forrozeiro
Venha que se contagia

Logo no início do ano,
O Réveillon é na praia
Em Pernambuco, Alceu
Te faz cair na gandaia
Em Salvador tem Ivete
Timbalada e Chiclete
Não queira fugir da raia

No dia 2 de janeiro
Já começa o carnaval
Nas ladeiras de Olinda
Frevo sensacional
Ceroula arrastando o povo
E as virgens vêm de novo
Alegria sem igual!

No sábado de Zé Pereira
Milhares de foliões
No Galo da Madrugada
Saem em grandes arrastões
Quem viu o ano passado
O recorde ser quebrado
Passando de dois milhões

Enquanto isso em Salvador
Já cantou Moraes Moreira
Claudinha contou na Sé
Olodum foi pra Ribeira
E o Encontro dos Trios
Faz tremer todo Brasil
Quando chega a quarta-feira

Na quarta-feira também
Pelas ruas de Olinda
Com o Bacalhau do Batata
Carnaval inda não finda
Tem Zuza do Munguzá
Irresponsáveis vai passar
E tem Camburão ainda

Você pensa que acabou?
Não! Não seja careta
Agora vai começar
A época da Micareta
Carnaval fora de época
Segura a tua retreta

Em Campina, Micarande
No Ceará, o Fortal
Em Sergipe, Pré-Caju
No Rio Grande, Carnatal
Ainda tem Abril Pro Rock
Cuidado! Não leve choque
Está longe do final

Durante a Semana Santa
Você pode descansar
Em Nova Jerusalém
Assistir, apreciar
A vida e Paixão de Cristo
Confira! Venha pra cá!

Venha para conhecer
O Maior Teatro Aberto
Que existe em todo mundo
Todo em Pedra, não concreto
Elevado em pleno agreste
Por mais um cabra da Peste
Plínio Pacheco, ta certo.

Ainda falta o São João
Argolinha, cavalhada
As festas de apartação
Cantoria e vaquejada
Eu acho melhor parar
Para você descansar
De toda essa jornada

(J)

Mas na momesca folia
Pula homem e mulher
No sábado ainda dia
Na Banda do Vai Quem Quer
É um bloco de grande porte
O maior que tem no Norte
Não se arrepende quem vier

Bem antes disso na quinta
Já vamos sair no Galo
A cara o povo pinta
Alegre a acompanhá-lo
À meia-noite ele sai
Conquista por onde vai
A cerveja é no gargalo

Se você ainda não foi
Perdeu uma festa e tanto
Em Manaus o Carnaboi
Traz gente de todo canto
Vocês não fazem tal qual
Mesclar boi com carnaval
Sou melhor nisso, portanto

Nós misturamos até
Imagine a presepada
Folia com arrasta-pé
Pra alegrar a moçada
Com o Trem de São João
Ninguém fica paradão
Aqui em nossa quebrada

Micaretas, meu chapa
Ouça a voz da razão
Em todo lugar do mapa
Desta festeira Nação
É um evento bem vivo
Não é um fato exclusivo
Somente de seu torrão

A câmera fotográfica
É um item primordial
Pois cidade cenográfica
Também aqui tem igual
Há perto de Porto Velho
Conforme diz o evangelho
Uma encenação pascal

(E)

Quase não encontro tempo
Pra escrever essa semana
Pois o Guaiamum Treloso
Com Gill foi muito bacana
No domingo teve As Virgens
E também o Pé-de-Cana

É 9 de fevereiro
Hoje é Dia do Frevo
Estou saindo de casa
Fazer o passo eu me atrevo
Maestro Forró tá na Rua
Na hora que eu escrevo

Esse Galo que há aí
Digo sem titubear
Foi totalmente inspirado
No Galo que é de cá
O daqui é um gigante
Teu pintinho, iniciante,
Nem sabe cocoricar

O Boi comanda a festa
De Momo no Maranhão
E ainda está espalhado
Por toda a região
Com Mateus e Catirina
A burra e Bastião

Forró e frevo, meu caro
Andam sempre encangados
Se pensas que surgiu aí
Estás muito enganado
Basta escutar Sivuca
Com o Frevo Sanfonado

Vou ficando por aqui
Pois tenho que me aprontar
Pra prévia do Culto a Baco
Eu já vou me deslocar
Amanhã tem Caboclinho
Depois, Cavalo Marinho
Quando é que vou parar?

(J)

É justa sua alegação
Visto que de repente
Você numa curtição
Aparece um indecente
Chamando para peleja
O tempo seu não sobeja
Entendo perfeitamente

Tão cheio de afazeres
Com a agenda entupida
Usufruindo prazeres
Vê a farra interrompida
Atrapalhei sua folga
Mas o debate empolga
Minha escusa é requerida

Não fiz todo esse percurso
Sem ter alguma bagagem
Rebato esse seu discurso
Não diga tanta bobagem
Brilha no nosso folguedo
O Galo não é arremedo
Mesmo sendo uma homenagem

Embora o boi maranhense
Tenha sido nosso modelo
O derivado parintinense
É melhor, venha cá vê-lo
Há aqui bicho folharal
O ponto alto é o ritual
Coreografado com zelo

Falta-lhe a cunhã poranga
Cujo corpo é escultura
Sacudindo sua miçanga
Baila com desenvoltura
Tem ainda curiosa dança
Do mestre da pajelança
Numa festa de estatura

(E)

O meu tempo não sobeja
Mas versos tenho de sobra
De sobra aqui tem festas
Que mostrei em minha obra
Se vai cair na folia
Venha pra Mulher do Dia
Entre debaixo da Cobra

Você só fez confirmar
Que as festas que há ai
São sempre uma homengaem
Ou uma cópia das daqui
Difícil é camarada
Ser Galo da Madrugada
E dois milhões reunir

Você tem dificuldade
De citar uma atração
Eu nem disse dez por cento
Pois aqui tem de montão
Mas eu lhe direi, bacana,
Que durante essa semana
Muitas outras sairão

Iniciando a semana,
Teve o e Bloco da Saudade
Pierrô de São José,
Lá no centro da cidade,
Madeira de Rosarinho
Com Ariano, o padrinho
Cheio de vitalidade

Hoje se acerta a marcha
Lá na Rua da Aurora
No Empório Sertanejo
Desfila o Bode da Hora
É frevo em todo lugar
Não dá para comparar
Desse jeito você chora

No sábado, no Espinheiro,
Tem a Turma do Oiti
Depois você vai pra prévia
Do Velho do Cariri
Tem Ceroulas na Ribeira
Depois Talo da Jaqueira
E o Baile do Siri

Tem que ter muita saúde
Não me venha com preguiça
Para fazer a Tesoura,,
Ponta-de-pé, dobradiça
Se você tiver juízo
Vai sair no Enquanto è Isso
Na Sala da Justiça

Vou parando por aqui
Você sabe como é
Imagine pra semana,
Que é a Semana-pré
Você tá impressionado
E se não tiver cansado
Vá pro Urso Papa-Mé

(J)

Você fala em imitação
Mas tenho convencimento
Não é mera reprodução
Desse seu divertimento
Não vá ter uma vertigem
Mesmo atestando a origem
Digo: é aprimoramento

Falei que pra todo lado
Tem carnaval temporão
Você reclama o primado
Dessa festa do povão
É vã sua insistência
Meu nobre, tenha ciência
Menor não é a diversão

Pra dar em você de ripa
No ramo agropastoril
Expoari e Expojipa
Expovel e Expovil
Eu falo sem arrogância
São feiras de importância
Das maiores do Brasil

Como o assunto é gado
Nisso eu não apanho
Não fique envergonhado
Pois vou falar em tamanho
Só preciso juntar dois
Estados que criam bois
Para vencer seu rebanho

De você tenho uma dó
Contudo não desafino
A Ilha de Marajó
Não é pródiga em bovino
Mas a alagada planície
Possui sua superfície
Lotada de bubalino

E se o tema é ilha
Coisa aqui tão normal
Na discussão boto pilha
A formação fluvial
Acaso seja xereta
Veja a maior do planeta
Nossa Ilha do Bananal


(E)

Você foi muito sensato
Mudando para outro tema
Pois discutir carnaval
Para você só deu problema
E nem deu tempo de ensinar
A dança: Passo da Ema

Nem deu para convidar
Para o Encontro de Artistas
Onde vai rolar poema
Com fantasia e passista
Sábado a Unicordel
Vai estar na Boa Vista

Mas você tá preferindo
Conversar de pecuária
Onde nossa tradição
Meu amigo, é centenária
Então vamos retornar
Nossa discussão diária

Tu tens mais gado de corte
Mas eu tenho mais leiteiro
O de corte só devasta
Todo norte brasileiro
Você ainda comemora
O que é isso companheiro?

Pra citar outros rebanhos
De domínio nordestino
Nós ganhamos pra vocês
Em ovinos e suínos
E damos de goleada
Se falarmos de caprino

Sei que fostes pesquisar
Colher dados, fazer conta
Mesmo assim saiu perdendo
Do nosso campo de monta
E vamos mudar de assunto
Deixar de falar de ponta

Que tal falar de poesia
De poetas de primeira
Feito Ferreira Gullar
Miró, Ascenso Ferreira,
Jorge de Lima, um gigante
Da poesia brasileira

Tem o mestre Zé da Luz
Com as Flor de Puxinanâ
Onde relata o caso
De três mulher, três irmã
De Patativa do Assaré
Pra embelezar a manhã

Seguindo com poesia
Vamos ser muito exatos
Nosso primeiro poeta
E provocador de fatos
Nasceu aqui, na Bahia
Grande Gregório de Matos

Castro Alves usa a pena
Na luta da liberdade
Gonçalves Dias prefere
Embrenhar-se na saudade
Se pra falar de poetas
Posso falar à vontade

(J)

Veja bem o que argui
Ao falar de devastação
Este gado contribui
Com nossa exportação
Incrementa a economia
O Norte alimento envia
O progresso é da Nação

Você diz que eu refugo
Não mostra por mim apreço
Não aceito esse jugo
De argumento não careço
Amazônia é atrativa
O que causa a esquiva
Ante o que ofereço?

Tenho o verde labirinto
As águas descomunais
Um belo cenário pinto
Os tons são dos matagais
Na batalha geográfica
Maior bacia hidrográfica
É nossa, de ninguém mais

Javari, Purus, Juruá
Tapajós e meu Madeira
Tem Negro e Japurá
É rio de toda maneira
Pra você não esquecer
Anote, sem se perder
Essa minha brincadeira

Espernear não compensa
Nem tente isso, xará
Se acabou você pensa
Ainda tem Nhamundá
Rio Trombetas e Paru
Javari e também Xingu
O Tocantins e o Içá

Eis aí, poeta, somente
Pequena demonstração
Apenas uns afluentes
Dessa nossa imensidão
Nem precisa matemática
Superam a malha aquática
De todo seu Nordestão

É curto este espaço
Pra falar da infinidade
De rio, igapó e braço
Que cercam cada cidade
Igarapé, lago, lagoa
Êta regiãozinha boa
Mas quanta enormidade

Não perca as estribeiras
Por causa deste enredo
Na Terra das Cachoeiras
Presidente Figueiredo
Caso cobrem, vale a taxa
Você descansa e relaxa
No meio do arvoredo

Querendo ver meu suplício
Citando nomes se inflama
Prescindo desse artifício
Não vou cair em sua trama
Nem vou falar em poeta
A nossa obra completa
A natureza declama

(E)

Chico Mendes vai tremer
Com essa sua posição
De novo vai se dizer
Que a luta foi em vão
Lá vem você defender
De novo, a devastação

Poetas não há? Irmão
Se há, por que tu não citas
Nessa imensa região
Poesias tu não recitas
Onde estão os poemas
Dessas terras tão benditas

Eu nem falei de Catulo
Não citei Nísia Floresta
Não li Augusto dos Anjos
Nem trouxe Xudu pra festa
Falta Firmino Teixeira
E outro tanto nos resta

Já cuidamos da natura
Da beleza que há por cá
Um oceano exuberante
Caatinga, singular
Mas, voltas para o assunto
Por poeta lhe faltar

Se queres falar de rio
Jaguaribe, Acaraú
Una e Capibaribe
Beberibe e Mundaú
O importante Jaguaribe
E o Piranhas-Açu

O Cânion do São Francisco
Poti, Curimataú,
Moxotó e Ipojuca
Paraíba, Pajeú
Ipanema, Capiá
São Miguel e Traipu

Tem Riacho da Navio
Beleza tão decantada
Jaboatão, Pirapama
Da Adutora falada
Pode pôr qualquer assunto
Pois aqui não falta nada

Saia da hidrografia
Volte pra literatura
Vamos partir para prosa
Melhorar sua leitura
Vamos ver se, dessa vez,
Tu não foges da cultura

Primeiro com as mulheres
Que tal Rachel de Queiroz
O Quinze ainda é um marco
Que orgulha todos nós
Será que tu me respondes?
Ou não se escreve entre vós?

João Ubaldo Ribeiro,
José Lins, José Condé,
Mauro Mota, Franklin Távora
Montello, o Josué
Grande Tobias Barreto
Nascido em Sergipe é

Como se vê, camarada
Não nos falta produção
Pecuária ou literária
De letra ou de algodão
Também não nos falta rio
Nessa região, “meu fio”,
Fartura tem montão

(J)

Não corro risco de vaia
Vou atender seu pedido
Saiba que Álvaro Maia
No meu Norte foi nascido
Amigo, esteja certo
Fique comigo esperto
Demora eu ser batido

Preste atenção na lousa
Se for aluno aplicado
O grande Inglês de Sousa
É natural deste lado
É orgulho da região
Por da ABL a criação
Ter ele participado

Outro paraense famoso
Um importante escritor
Nas letras bem talentoso
Da Academia mentor
Obidense ilustríssimo
Salve José Veríssimo
Esse imortal fundador

Cuidado com o coração
Porque a inveja mata
Tenho muita munição
O meu nó ninguém desata
Sua conversa é feia
Poeta aqui não rareia
Então vide o Rui Barata

E dentro do meu alforge
Ainda tenho surpresa
J.G. de Araújo Jorge
Escrevia com singeleza
É acreano o artista
Destacado sonetista
Gente nossa, que beleza

Mas antes que você peça
Dessa peleja arrego
Conheça o Aníbal Beça
E dê à alma sossego
Falar em literatura
É minha tarefa dura?
Garanto, então, o emprego

Se pra você não valeu
Tem mais poeta belo
Conhece certo Amadeu?
Nosso Thiago de Mello
Não seja intransigente
É longa essa corrente
Este é mais outro elo

Não pense que eu sou bobo
Aqui tenho a ferrovia
Que motivou dona Globo
A exibir todo dia
Márcio Souza é autor
Do livro inspirador
Da série Mad Maria

No tema livro e escrita
Jamais vou sair do tom
Nossa produção bonita
É tudo que há de bom
E já que falei em telinha
Autor de primeira linha
É o Antônio Calmon

Uma pergunta persiste
Incomoda e intriga
O que será que existe
Por que usa a barriga
E bota pra escanteio
Medo de levar vareio
Ou de perder essa briga?

Não fico surpreendido
Acho um tanto engraçado
Você ficar escondido
Do assunto abordado
Não me enfrenta de testa
Seria a falta de floresta
Que existe pra esse lado?

Falando de água doce
Demonstra constrangimento
Quem dera se você fosse
Por aí a todo momento
Premiado com a imagem
Observando a passagem
Do Madeirão, rio barrento

Só sete de cada banda
Foram os rios que citei
Não fuja dessa ciranda
Do assunto em que entrei
A comparação é bisonha
Disso não se envergonha?
Falta-lhe rio, meu rei

Escute meu comentário
Sinto-me até ilhado
Os rios daí não são páreo
Nem para os do meu Estado
Madeira e Mamoré
Jamari e o Guaporé
O Candeias e o Machado

Vou parar um pouquinho
Esperar você pesquisar
Para ver quanto riozinho
Ainda vai arrumar
Para enfrentar os meus
Que foram feitos por Deus
E correm pro Rio-Mar


(E)

Desta vez, foste esforçado
Fizeste boa pesquisa
Mesmo assim não pouparei
De te dar uma boa pisa
Pois enfrentar nordestinho
Não é coisa fácil, menino,
Comigo não terás brisa

Só achaste meia dúzia
Depois de muito estudar
Vou citar mais um tuia
Dos que ainda tem por cá
Não citarei tudo agora
A lista é grande, demora,
Não dá tempo terminar

Se tu queres fundadores
Coelho Neto, romancista
Mestre Raimundo Correia,
Poeta a perder de vista,
Rui Barbosa, Águia de Haia,
Se não agüenta: corra! Saia!
Que aqui tem muito artista

Também Oliveira Lima
Estava na fundação
Junto a Clóvis Beviláqüa
Civilista da Nação
Eu tô só fazendo um teste
Será que só tem Nordeste,
nessa inauguração?

Também estava presente
Aluísio de Azevedo
Defendendo o Maranhão
Com fibra, sem nenhum medo,
E honrando Pernambuco
Chegou Joaquim Nabuco,
Poeta de muito cedo

Não penses que terminei
Havia outros presentes
Mas, eu vou mudar um pouco
Pra falar dos Presidentes
Pois a lista eu encurtando
Você vai se acalmando
Do medo do concorrente

Austregésilo guiou
Por um tempo sem igual
E na ONU redigiu
A Carta Universal
Dos direitos do homem,
Que coisa sensacional!

Vilaça foi mais moderno
Introduziu a informática
A academia abriu
De uma forma didática
E foi muito importante
Para reforma ortográfica

Tem, ainda, Álvaro Lins,
Bechara, Celso Furtado
Lêdo Ivo, Evandro Lins,
É mestre pra todo lado
Nem falei do Velho Graça
E somente por pirraça
Eu não citei Jorge Amado

Lembrando do bom baiano
Queres falar de novela
Ninguém pode esquecer
A cena de Gabriela
Subindo pelo telhado
Eu gostei, foi arretado!
Será que não gostas dela?

Então preferes falar
Da nossa televisão
Tivemos tantas minisséries:
Seu Quequé e Lampião,
Memorial de Maria
Moura, quem diria,
Também se deu no sertão

Não me diga que não viste
O Alto da Compadecida
João Grilo e Chicó,
Na Taperoá querida
Ensinando que o riso
Torna mais doce a vida

O maior comunicador
Da história da telinha
Todos sabem meu amigo
Que foi o grande Chacrinha
E ainda digo, rapaz,
Que o núcleo de Guel Arraes
Representa a terrinha

Se queres comediante,
Segura, toma um montão,
Primeiro vai Chico Anísio,
Depois, Renato Aragão,
Ria com Tom Cavalcante
Ludugero, um gigante,
Fez sorrir nossa nação

Não preciso de pesquisa
Pra falar da natureza
Pois a nossa é mais rica
Mais diversa, uma beleza,
Já falei de rio e mar,
Que tu não tens com certeza

Também não falta aqüífero
Em todo que é lugar
É água subterrânea
Só basta a gente furar
Que do solo sai brotando
Para a sede saciar

Temos água de montão
Ainda não explorada
Escondida em sedimentos
Bem no meio das Chapadas
De Urucuia e Irecê
Eu não digo pra você
Que aqui não falta nada

O São Francisco é orgulho
De toda uma região
Vamos para Petrolina
Pra ver a irrigação
A safra é o ano inteiro
E de janeiro a janeiro
Tem-se fruta no sertão

Se não quiser ir tão longe
Pra saborear melão
Comer manga saborosa
Ver a maior produção
De castanha de caju
Vá ao Vale do Açu
É tudo aqui, meu irmão

(J)

Como não lhe satisfez
A relação exibida
Cito outros desta vez
A lide será comprida
Pense em mulher bacana
Glória Perez é acreana
Autora demais querida

Levando nossa bandeira
Pra seara do esporte
Quem lê Armando Nogueira
É ser humano de sorte
E quem ouve João Donato
Aplaude, isso é fato
Viva as estrelas do Norte

Há pouco tempo atrás
Tivemos um concorrente
Ao Prêmio Nobel da Paz
José Maurício é da gente
O mundo reverencia
Um ás na diplomacia
Rondônia ficou contente

No humor um dinossauro
Eu apresento a você
Trata-se de Lúcio Mauro
Que é sucesso na tevê
Esse não saiu de moda
Eu lhe coloco na roda
Não fique à minha mercê

Falando em moda, aproveito
Pra mencionar uma figura
Um engenhoso sujeito
Fenomenal criatura
Dener foi pioneiro
No país um verdadeiro
Gênio da alta costura

Figurinha carimbada
Busca sua tese jocosa?
Você conhece a lambada
A dança voluptuosa?
Siga então o meu rastro
Saiba que o maior astro
É o rei Beto Barbosa

Arrume da calça o cós
Porque daqui não arredo
Tem o Sebastião Tapajós
Nosso moderno aedo
Temor de perder não tenho
Meu contragolpe ferrenho
Faz-lhe dizer: cruz-credo!

Debate, caro colega
Eu não costumo perdê-lo
Este aqui não se entrega
Produz verso com desvelo
A rima é curta e rasa
Este é ídolo da Casa
Sabe donde é Serzedello?

Na sua presença não tremo
Você não me traz pavor
Brindou-me o Ser Supremo
Com cidadãos de valor
Veja se não desatina
Jatene na medicina
Nota dez esse doutor

Ainda estou curioso
Para obter respostas
Por que poeta ditoso
Você vira as costas?
Fica sem graça demais
Falar d'águas fluviais
Armas estão aí, postas

Será porque momentâneas
Muitas águas daí estão
Vem falar em subterrâneas
Que também tenho, irmão
Quero saber das de cima
Não vá se apear da rima
Cadê as que correm no chão?

Um banho literalmente
Vou lhe dar nessa história
Nem mesmo que você tente
E puxe pela memória
Obterá uma amostra
Aí então que se prostra
Devido à minha glória

A sugestão é maldosa
Vão lhe faltar elementos
Se quiser, mude a prosa
Para não ter ferimentos
Venha no contra-ataque
Fale de outro destaque
Livre-se desses tormentos

(E)

Faz tempo que pelejamos
Assim já há amizade
E eu já posso falar
Com toda sinceridade
Desta vez, você foi mal
Trouxe uma lista banal
Com muita dificuldade

Eu já falei de Rachel
Te mostrei Nísia Floresta
Você vem com Glória Peres
Vou ter que franzir a testa
Eu vou dizer pra você
Assista menos TV
Ver só novela não presta

Agora posso entender
O que você pretendia
Talvez quisesse falar
Da nossa dramaturgia
Já citei vários valores
Mas como não faltam autores
Vou até o fim do dia

Conheces Nelson Rodrigues?
No Brasil não há igual
Em Pernambuco nascido
De obra fenomenal
Além de grande contista
Foi o maior cronista
Do esporte nacional

Citas Armando Nogueira
É um bom exemplo teu
Só uma coisa não sabes
Que Armando aprendeu
Com Mário Filho a fazer
Bem logo depois de ler
O Maracanã Adeus

Outro que aprendeu conosco
Lúcio Mauro, sou sincero,
Foi só coadjuvante
De Otrope e Ludugero
Não sou eu que digo não
É dele a afirmação
Não venha com lero-lero

João Donato é bonzinho
Admito companheiro
Mas, nome na bossa nova,
João Gilberto é o primeiro
É o mestre da canção
Um banquinho e um violão
E nasceu em Juazeiro

Foste pesquisar bastante
Fizeste um escarcéu
Mexeste na tua estante
Olhaste a terra e o céu
Para um nome encontrar
Nascido nesse lugar
Indicado ao Nobel

Para o Nobel da Paz
Não tivemos só um nome
Primeiro foi Paulo Freire
Educador de renome
Depois, Josué de Castro,
Bandeira no alto do mastro
Na luta contra a fome

Josué foi indicado
Também pro de Medicina
Para Paz foi irmã Dulce
De silhueta franzina
Tem ainda outros tantos
Por todos esses recantos
Dessa nação nordestina

Para o de Literatura
Indicaram João Cabral
Depois veio Jorge Amado,
Baiano fenomenal,
Preste atenção, criatura,
A nossa literatura
Tem valor universal

Tu ainda tem coragem
De citar Beto Barbosa
Como se diz por aqui
Eita que alma sebosa
Para mim não vale nada
Essa fase da lambada
Pro Brasil foi tenebrosa

Eu sei que lhe faltam nomes
De esporte e da cultura
Você procura e não acha
E eu cito com fartura
Ai você se revela
Com assunto de donzela
Entra na alta costura

Eu prefiro conversar
Sobre a mulher brasileira
Como a bela Martha Rocha
A nossa miss primeira
Mas, queres falar de pano
Saiba: o solo americano
É de Eduardo Ferreira
Depois citas Serzedello.
Falando do Tribunal
Acho apenas que esqueces
De uma coisa trivial
Que a Corte da nação
Deve a sua criação
Ao nosso Rui genial

Esqueçamos do passado
E vamos para o presente
Vilaça, Valmir Campelo,
Ubiratan presidente
Zé Jorge, pernambucano,
Aroldo Cedraz, baiano.
Onde anda sua gente?

De instrumentos de corda
Nós temos o pioneiro
Foi João Pernambucano
Violonista primeiro
E Canhoto da Paraíba
Chegou à parte de riba
Do violão brasileiro

Ainda tenho três astros,
Que coisa espetacular!
Vital Farias tocando
A saga do teu lugar
Xangai, outro grande artista,
E de Vitória da Conquista
Escutemos Elomar

Queres guitarra elétrica
De Recife: Robertinho
Ao som do frevo baiano
Eu entro com Armandinho
Pepeu, Dodô e Osmar
Moraes Moreira a tocar
Eita que time fraquinho

Já te mostrei vários rios
E o imenso litoral
Por aqui não falta água
Marinha ou fluvial
Também embaixo da terra
Correndo no pé-de-serra
É grande o manancial

E toda água que temos
Por nós é aproveitada
Quem bebe a água daqui
Na vida dá uma guinada
Por isso tantos valores
Artistas, mestres, doutores
E você não me traz nada

Você muito procurou
Mas, não encheu uma mão
Eu lhe dei balaios cheios
De expoentes da nação
Pois eu sou cabra da peste
Zona da Mata e agreste
Sou litoral e sertão

Fazias boas sextilhas
Que eram boas de ler
Os versos de sete linhas
Eu te ensinei a fazer
Mostrei mais modalidades
Mas, que infelicidade,
Você não quis aprender

Se aproxima o carnaval
É festa em todo lugar
Como aí é parado
Aproveite pra estudar
Aprenda modalidades
E, tendo necessidades,
Eu posso te ajudar

Mas, se não tens orgulho
Homem, deixe a pirangagem
Rape a cuia, junte os pontos
Os trocados e a milhagem
Corra na TAM ou na GOL
Pro Nordeste ache um vôo
E compre a sua passagem

(J)

Em admitir não rubesço
Que eu sou iniciante
Aguarde porque eu cresço
Digo-lhe que doravante
Uma melhora gradual
Verá em meu cabedal
Não seja assim arrogante

Leigo em metrificação
Fui na net aprender
O leitor dará o perdão
Você viverá pra ver
Fazer rima só sabia
A técnica da poesia
Vivia a desconhecer

Pare de atrevimento
Eu fazia e ignorava
Para seu conhecimento
Septilha eu já criava
Aqui não foi a estreia
A sua prosopopeia
A minha cova não cava

Essa estrofe esquisita
Para mim foi novidade
Porém não saí da fita
Apesar de sua maldade
Para não sofrer revés
Décima de sete pés
Busquei nas comunidades

Você que não escarneça
Leia logo o relato
Aprendi essa a jato
Eu coloquei na cabeça
Que o estilo permaneça
Preciso era ser mantido
Pois o texto exibido
Teria uma assimetria
Por isso eu não podia
Do mesmo ter esquecido

Martelo trouxe à tona
Galope e outras mais
Pra mim é ferramentona
E a carreira d'animais
Desejou minha derrota
O meu versinho só trota
Mas vai progredir, rapaz

Que a guarda baixa note
Eu não me importo com isso
Para a glosa e o mote
Como pro pinguim no viço
Eu não fora apresentado
Todavia, foi pesquisado
Esse era meu compromisso

Avizinha-se o feriado
É festa eu tô no meio
Sinta-se cumprimentado
Eu vou deixar de rodeio
O debate foi em paz
No futuro serei capaz
De lhe colocar um freio

Não pense que eu provoco
As ruas estão na farra
Sai muita banda e bloco
O povo todo se amarra
Nosso baile começou
E maluquinho estou
Para fazer algazarra

Aos nordestinos eu rogo
Desculpas se ofendi
No verso, brinco e jogo
Em que fria eu me meti!
Fui lidar com professor
Cordelista de valor
Mas como evoluí

Sabia do grande risco
Que estava correndo
Nesse monte sou um cisco
Isso eu vinha prevendo
Ora, quanta ousadia
Enfrentar a galhardia
Desse que está escrevendo

Contudo, até fui longe
No primeiro desafio
Que paciência de monge
Você teve horas a fio
Mas saiba que o aprendiz
Não ficou muito feliz
Na discussão sobre rio

Em breve outro arregaço
Construirá esse duo
Parceiro, o meu abraço
Daqui não mais continuo
Sua rima é de ouro
E ensinou um calouro
Se ando mais, eu amuo

Inda não fui, observe
Pro rumo do cemitério
Vou lapidar minha verve
Creia, o papo é sério
Se lhe aprouver, publique
Mas claro quero que fique
A culpa é do Rainério!!!

(E)

A peleja nos impõe
Um tratamento bem duro
Você agüentou o tranco
Demonstrou ser bem seguro
Comportou-se com destreza
Feito poeta maduro

A métrica é uma arte
Que exige perfeição
Estou muito dela
Falta muito, meu irmão
Muitos erros cometi
Os leitores notarão

Que bom que você estudou
A estrutura do cordel
Nós temos que ler bastante
Pra cumprir um bom papel
É só assim que seremos
Cada qual um menestrel

Você não fugiu da luta
E nem temeu o revés
Demonstrou ter qualidade
Um corajoso tu és
Mas, uma coisa eu explico
Toda décima tem dez pés

Pé, também chamado linha,
É cada um dos versos
Um conjunto dessas linhas
É uma estrofe, confesso
Se tem seis, uma sextilha
Se tem sete septilha
Divulgue isso, te peço

Da quantidade de sílabas
Cuida a métrica, um trissílabo
Se a linha tem 10 sílabas
É o verso decassílabo
E sem danada tem sete
Será verso “setissílabo?”

Uma coisa é importante
É preciso destacar
Que em cada um dos pés
Você só deve contas
Até a sílaba tônica
Do termo que o terminar

Pra felicidade nossa
Começou o carnaval
O daqui é muito bom
O seu também é legal
Esqueça as provocações
Peço desculpas: foi mal!

Nesses dias, meu amigo
Eu confesso, tive sorte
Aprendi a importância
Da nossa Região Norte
De um povo trabalhador
Dessa floresta de porte

E confesso mais ainda
Você teve muito brio
Me armou uma armadilha
Colocou um catabiu
Quase que você me enrola
Eita terra pra ter rio!

O duelo foi cumprido
Mas, não houve vencedores
Cada um dos cordelistas
Defendeu os seus valores
Mostrando suas culturas
E pintando suas cores

A presença de Rainério
Demonstrou-se essencial
É no Nordeste nascido
Caboclo bom sem igual!
E morou aí no Norte
Veja que coisa legal

Agora chegou a hora
De fazer a despedida
A peleja já termina
Nós vamos cuidar da lida
Viva o povo do Nordeste
E pro Norte muita vida

Outros lerão nossos versos
Verão a nossa poesia
Espero que eles gostem
Dessa nossa cantoria
Desejo felicidade
Pra minha nova amizade
Adeus, até outro dia!


Uma vez citado, nosso colega e incentivador Rainério Rodrigues Leite assim arrematou:

Sobrou pra mim!!!! Eu sabia!!!

Mas que felicidade
Dois poetas de verdade
Pelejando em minha frente
Com tanta rima e repente

As vezes me fazia rir
As vezes quase chorar
Deslumbrado com a esperteza
Que os dois tem com certeza
Não há como eu negar

Um poeta experiente
Outro diz não ser assim
Mas vejam que para mim
Os dois são, com sinceridade
Sem fugir com a verdade
De uma grandeza sem fim

Como vê não sei rimar
Não entendo de métrica
Nem de composição poética
Mas lhe afirmo agora
Que pra falar sem demora
Outra forma não há

Quem lê se contagia
É uma coisa esquisita
Que não dá pra explicar
A rima é tão bonita
Que a gente até se irrita
E só assim quer falar

Então pra finalizar
Agradeço com alegria
De ver tanta maestria
E tanta sabedoria
No poeta popular

2 comentários:

  1. Coisa linda isso, Jerson. Parabéns aos mestres poetas.
    Abraços dobrados

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  2. parabens meus amigos e li sobre minha cidade de Labrea amazonas ai parabens

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