sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

UM ANIVERSÁRIO, UM DIVÓRCIO, UMA DEMISSÃO...

Doravante vou narrar
A saga desse sujeito
Um brilhante industrial
Pra ninguém botar defeito
O mencionado empresário
Celebrava aniversário
Seu dia foi desse jeito

Nem um cumprimento feito
Pelos seus entes queridos
Dos filhos, esposa ou mãe
Parabéns não são ouvidos
Nenhum presente ou cartão
Ou singela ligação
São a ele dirigidos

Homem dos mais deprimidos
Foi, tristonho, pra labuta
Ao chegar, da secretária
Ele, finalmente, escuta:
"Parabéns, chefe estimado"
E por ser felicitado
O seu semblante transmuta

Sua secretária astuta
No horário do almoço
Faz a seguinte proposta:
"Almocemos juntos, moço"
"Hoje é data especial
Escolhamos o local"
Ele diz, em alvoroço

A mulher era um colosso
Detinha beleza rara
Fez, decerto, acelerarem
Os batimentos do cara
Almoçam alegremente
Porém, ela não contente
Outra sugestão dispara

Atiçando a sua tara
Ela, faceira, convida:
"Vamos lá pra minha casa
Tomar alguma bebida
Poderemos relaxar
Essa tarde aproveitar
Pra data não ser perdida"

Ele vai, feliz da vida
Com sacanagem na mente
Chegando na casa, enfim
Ela diz suavemente:
"Aguarde, chefe adorável
Vou pôr algo confortável
E volto rapidamente"

Do quarto vêm, de repente
Com bolo e refrigerante
Seus filhos, mãe e mulher
E a funcionária importante
"Parabéns!" falam em coro
Contudo, faltou decoro
Desse aniversariante

Eis a cena hilariante:
O cara estava pelado
Só de meias no sofá
Deitadão, esparramado
Daquela 'celebração'
Divórcio e demissão
Foram, claro, o resultado

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Adaptação de piada

A MAIS BELA FLOR

Lá na China imperial
Num passado já distante
Existiu um jovem príncipe
À coroa postulante
Pelas normas do lugar
Deveria se casar
Pra no trono ter assento
Dessa regra sabedor
O futuro imperador
Agiliza o casamento

Formulou uma disputa
Entre suas pretendentes
Disse que receberia
Numa festa as concorrentes
Uma antiga serviçal
Sabendo, sentiu-se mal
Seu olhar fica tristonho
Pois sua filha, mocinha
Um sentir forte mantinha
O rapaz era seu sonho

Ao contar a novidade
Pr'aquela jovem garota
Qual não foi sua surpresa
Quando ela disse, marota:
"Se assim faz o meu bem
Pra lá eu irei também
Participar do evento"
Sua mãe, sem crer, retruca:
"Menina, ficou maluca?!
Só vão belas, tenha tento!"

A filha logo responde:
"Mamãe, eu estou ciente
Ele não vai me escolher
Porque será exigente
Caso o 'prêmio' não alcance
Ao menos terei a chance
De ficar alguns momentos
Com aquele homem lindo
O qual não vejo saindo
Dos meus doces pensamentos"

Na hora marcada estão
Moças belas, bem vestidas
Ornadas com muitas joias
E todas bem instruídas
Aquela humilde menina
Mesmo assim se determina
Integra a competição
O desafio citado
Pelo príncipe é lançado:
"Escutem com atenção"

"Tenho aqui várias sementes
Dou uma pra cada qual
Aquela que me trouxer
Num período semestral
A mais bela flor, eu caso
Deve ser cumprido o prazo
São seis meses e mais nada"
Finalizando, ele diz:
"Será minha imperatriz
A vencedora esmerada"

Os dias foram passando
Aquela garota meiga
Cuidava da sementinha
Mesmo em jardinagem leiga
Foi zelosa e dedicada
Mas não se viu germinada
Uma plantinha sequer
O tempo dado se esgota
O vaso nos braços bota
E sai a jovem mulher

Em conversa com a mãe
Ela diz: "tive carinho
Tentei cumprir a tarefa
Vou seguir o meu caminho
Não venci o desafio
E levo o vaso vazio
Embora não triunfante
Não terei como marido
Mas fico com meu querido
Por apenas um instante"

Ela chega e vê as outras
Todas com formosas flores
E fica maravilhada
Com aqueles esplendores
Após exame apurado
Surpreende o resultado
Que o príncipe anuncia
Não venceu a flor mais bela
A eleita foi aquela
Que nenhuma flor trazia

O espanto foi geral
E veio a explicação:
"Eram, na verdade, estéreis
As sementes em questão
Por isso minha escolhida
Não foi pela flor trazida
Tampouco por ser beldade
Quem, feliz, eu seleciono
Para ocupar esse trono
Tem a flor da honestidade"


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Adaptação de conto chinês

MARTELO AGALOPADO, UM LINDO ESTILO

O cordel é vertente da cultura
Aprazível demais, não se contesta
Nossa rede global, de fato, infesta
Adesões cada vez mais assegura
Com viés popular se configura
No Brasil, tem origem nordestina
Mas em outros locais grassa, fascina
Em distintos estados tem autores
Semeando seus versos, lindas flores
Pelas ruas, na praça, em muita esquina

Pode ser cada linha em redondilha
Pra fazer um cordel rapidamente
Sendo usadas seis linhas tão-somente
Essa estrofe é chamada de sextilha
Sete versos nós temos a setilha
Uma oitava? Tem oito é a resposta
Tendo dez uma décima é composta
Da quintilha e da quadra é pouco o uso
Desse jeito, leitores, introduzo
Apresento as comuns da forma posta

Noutro texto abordei como é medido
Todo verso integrante dum poema
A contagem silábica é problema
Não é raro um poeta confundido
Sobretudo no verso mais comprido
Um martelo, um galope ou similar
É preciso saber metrificar
Pôr cadência, rimar com simetria
Para ser resultante a melodia
É gostoso, quem lê vai adorar

Eu confesso encontrar dificuldade
Pra compor nas dez sílabas poéticas
Justamente devido às tais estéticas
Faço em sete por ter tranquilidade
Percebendo, porém, necessidade
Compartilho das regras aprendidas
Não podia deixá-las escondidas
Porque têm para todos importância
Essas dicas de extrema relevância
Devem ser todo tempo difundidas

Pra escrever em Martelo Agalopado
Não se pode fazer de qualquer forma
Necessário é cumprir a sua norma
Para o som não sair atravessado
Em primeiro lugar, tenham cuidado
Nas dez sílabas ponham a cadência
Na terceira e na sexta é exigência:
Deve haver, amigões, tonicidade
Muitas vezes, não há facilidade
Entretanto, há respeito a sua essência

No tocante ao esquema é usual
Os dez versos conforme aqui mostrados
O segundo e terceiro bem rimados
Quarto, quinto e primeiro: rima igual
Rima oitavo com nono, pessoal
Rimam sexto, seguinte e derradeiro
Ademais, assevera seu parceiro
Há estrofes mais curtas em martelo
Por exemplo, em seis versos fica belo
Esse estilo adorável por inteiro

Nessas letras não passo de aprendiz
Não pretendo dar uma de sabido
Vira e mexe me vejo, sim, perdido
Corro atrás das lições sempre feliz
Acreditem, meus caros, eu só quis
Ajudar porventura algum poeta
Ser melhor com certeza não é meta
Com vocês, eu estou no mesmo barco
Se for útil pr'alguém meu saber parco
Alegria no peito se completa