sábado, 13 de novembro de 2010

A ESTRADA DE FERRO MADEIRA-MAMORÉ

Fim do século dezoito
Início do dezenove
Na Amazônia se promove
Revolução Acreana
Os habitantes locais
Para serem brasileiros
Lutaram como guerreiros
C'a nação boliviana

O território do Acre
Ao Brasil não pertencia
Bolívia, a soberania
Sobre aquele chão detinha
José Plácido de Castro
Com bastante inteligência
Comandou a insurgência
Contra a citada vizinha

O conflito teve fim
Porquanto foi assinado
Pelos países tratado
Pra por fim às diferenças
O Tratado de Petrópolis
Foi o nome do instrumento
Houve o apaziguamento
Cessaram as desavenças

Essa área, finalmente
A Bolívia cederia
Mas o Brasil pagaria
Muitas libras esterlinas
Dois milhões foi o montante
Além disso, a condição
De escoar a produção
Daquelas terras andinas

A borracha, sobretudo
Era por lá produzida
Precisava ter saída
Pra fazer o seu transporte
E por causa disso mesmo
O tratado exigiria
Construção de ferrovia
Por muitos dita "da Morte"

Um trecho encachoeirado
Do Mamoré, na fronteira *
Até nosso Rio Madeira **
Precisava ser vencido
Só por terra era possível
Em razão disso, um trem
É ideia que se tem
Pra isso ser resolvido

Desde Guajará-Mirim
Pelo Mamoré banhada
Até Porto Velho amada
ÀS margens do Madeirão
A Madeira-Mamoré
Rasgou nossa Amazônia
A nossa hoje Rondônia
Viu os trilhos no seu chão

O projeto era antigo
Nos anos mil e oitocentos
Existiam movimentos
Para sua implantação
Começa o Coronel Church
Outra turma bem que tenta
Contudo, não se implementa
A bendita construção

Mil novecentos e sete
Foi marco do reinício
Cinco anos de suplício
Até ser finalizada
Mil novecentos e doze
Dia trinta de abril
Todo mundo, enfim, viu
Ela ser inaugurada

Apitou durante anos
Fazendo o seu trajeto
Até que por um decreto
Decide Castelo Branco
O ano: sessenta e seis
Exigência normativa
Parava a locomotiva
Cessaria o solavanco

Tomaria seu lugar
Rodovia federal
Ligando a Capital
A Guajará, com certeza
Demorou-se a fazer
Em setenta e dois somente
O vagão disse ao dormente:
"Paro de vez"... Que tristeza!

Vários anos de abandono
Tudo foi sucateado
E depois negociado
Com indústrias do setor
Somente em oitenta e um
Voltou para o seu caminho
Retoma um trecho curtinho
Que bravo o governador

Retorna a Mad Maria
O povo daqui sorriu
De metros, são sete mil
Porto Velho a Santo Antônio ***
No ano seguinte, então
Mais um trecho se inagura
Um passeio de aventura
Iria até Teotônio ***

Mais tarde, do outro lado
De Guajará ao Iata ***
O apito rasga a mata
Alegrando os habitantes
Depois de ser renegada
Volta à cena nossa amiga
Maria fumaça antiga
Encantando os visitantes

A Ferrovia do Diabo
Já não anda hoje em dia
É memória, nostalgia
Recebeu o tombamento
Nos pátios, nas estações
Nos museus, muita lembrança
Resta, pois, a esperança
De ver seu funcionamento



________________________________________



* Rio Mamoré: banha a cidade de Guajará-Mirim, Estado de Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
** Rio Madeira: banha a cidade de Porto Velho, Capital de Rondônia.
*** Santo Antônio, Teotônio, Iata: localidades próximas às cidades mencionadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário