sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A FÁBULA DA GALINHA VERMELHA

Eis a estória da galinha
Uma ave bem ruivinha
Que, ciscando no quintal
Encontrou uns grãos de trigo
Chama tudo qu'é amigo
Pra plantar o cereal

Se for feita a plantação
Ela diz: vamos ter pão
Pra nossa fome matar
Preciso de sua ajuda
Não demora, surge a muda
Venham cá me auxiliar

A vaca disse: nem vem!
O pato não quis também
Prestar colaboração
O porco se recusou
E o ganso não aceitou
A singela sugestão

Diante da negativa
De coragem não se priva
Fala, então: eu mesma planto
Mais tarde, viu seu achado
Florescer, lindo e dourado
Produzindo bem, portanto

Vendo o trigo já maduro
Com a visão no futuro
Faz apelo à bicharada
Da colheita tá na hora
Mas todos dizem: tô fora!
Desdenhando da coitada

Eu não vou, responde o pato
O porco: disso não trato
Não perturbe meu sossego
Recusa a vaca e nem pisca
O tal ganso não arrisca
Seu seguro-desemprego

Marejando cada olho
Conformou-se: vou e colho
Eita cena embaraçosa
Lá se foi, cantarolando
Todo o trigo foi juntando
A galinha corajosa

Preparou do pão a massa
Dizendo, quem é que assa
Comigo essa iguaria?
Convidando, fez acenos
Esperava d'um ao menos
Apoio no que fazia

Eu posso ser solidária
Pague a mim uma diária
Disse a vaca interesseira
Pato não marca presença
Com seu auxílio-doença
Poderá fazer a feira

O porco retruca ao lado
Eu não sou tão estudado
E nem sei fazer pãozinho
O ganso, por sua vez
Demonstrando insensatez
Eu não vou jamais sozinho

Daquele trigo produtos
De árdua labuta frutos
Cinco pães dentro da cesta
Sem poder contar com amparo
A guerreira deixou claro:
São todos meus, não sou besta!

Vêm logo as reclamações
As mais quentes discussões:
Fora os lucros abusivos!
A galera da preguiça
Brada: isso é injustiça!
Seus ganhos são excessivos!

Pelos direitos iguais
Parasita e outros mais
Ouve como xingamentos
Do trabalho, outrora, em fuga
Eles taxam: sanguessuga!
Para a pobre, maus momentos

Mesmo c'o trabalho honesto
Enfrenta muito protesto
Sua sina foi perversa
Aparece, de repente
Do governo, um agente
Pra com ela ter conversa

Esse cabra a repreende:
Minha cara, vê se entende
Dividir é bem melhor
Ela retruca de pronto
Camarada, já te conto:
Foi tudo com meu suor

O sujeito não lhe alegra
Comentando sobre a regra
Vigente lá na fazenda:
Você tem de repartir
Aquilo que produzir
Ela acata a reprimenda

Pra geral felicidade
Distribui, com igualdade
Os seus pães, sem pestanejo
Inclusive, bem feliz
Estou grata, ela diz
Num sonoro cacarejo

Depois disso, seu negócio
Era só viver no ócio
Pra espanto da criação
Perguntavam intrigados
Os bichos aqui citados
Nunca mais fez nem um pão?


* Adaptação

Um comentário:

  1. Bela,belissima adaptação! conheço essa fábula!!!
    ficou mais que perfeita em forma de cordel! nessa história todo mundo é cigarra, só a galinha que é formiga,né???? rsrsrsrsrsrsrs

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